sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

AVANÇO DO MAR CAUSA RASTRO DE DESTRUIÇÃO NA COSTA CEARENSE



                Especialista em impactos ambientais em zonas costeiras, professor do curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e membro do Laboratório de Geologia e Geomorfologia Costeira Oceânica, Paulo Roberto Silva Pessoa explica que, em todos os 573 quilômetros da nossa costa, um dos maiores problemas é, sem dúvida, o da ocupação, um dos fatores responsáveis pelo avanço do mar.
              O professor destaca que, "se barramos o caminho natural, seja para a construção de um resort, um prédio, de qualquer empreendimento, a gente acaba deixando de alimentar a zona costeira. O resultado é que as ondas vão bater na praia sem a alimentação e a tendência desse processo pode ser a erosão. Nós temos alguns núcleos erosivos, como o de Icaraí, Iparana, algumas áreas de Paracuru. Esses são fatores ocasionados por intervenções humanas". Sobre a dinâmica natural da zona costeira, o especialista conta que "o movimento das ondas é alimentado pela areia das dunas. A nossa costa é eminentemente arenosa. São os depósitos eólicos no formato de dunas. Têm uma expressividade muito grande naquela região do Cauípe, de Canoa Quebrada e Jericoacoara. Essa areia já esteve um dia no ambiente litorâneo, na praia. Os mares e as ondas jogam esse material para a costa. O vento se encarrega de levar para cima do continente, que retrabalha esses sedimentos até que eles cheguem de novo na linha costeira, caiam na zona fluvial, nesses estuários pequenos, que devolvem essa areia para a zona costeira mais uma vez".
              O professor frisa que, "além disso, temos os eventos considerados naturais, de alta energia, que são as ondas de tempestades que provocam as ressacas e também esse tipo de fenômeno de degradação. Elas são geradas no oceano e representam a transferência de energia da atmosfera para a superfície do mar. Parte dessas ondas surge por esse processo. As outras ondas são formadas por abalos sísmicos, pelo vulcanismo e os terremotos que transferem energia da crosta para a superfície e aí essas ondas passam a se propagar pelo oceano. E quando atingem a costa podem provocar esses eventos de alta energia".
              Paulo Roberto lembra que, na costa do Ceará, apesar dos outros eventos, o principal responsável por provocar as ondas no oceano é o vento. "Quanto maior o sistema atmosférico, maior a quantidade de dias que ele vai atuar em cima da superfície, maior será a área afetada e, consequentemente, a quantidade de ondas que pode chegar à linha da costa de Fortaleza. Esse é um processo que forma também a erosão". Conforme o professor Paulo Roberto, temos células de erosão de uma ponta a outra do nosso litoral. Outro aspecto natural é do das falésias. "Elas recuam. Com o tempo, vão se desgastando por causa das ondas até perder o que chamamos coeficiente de estabilização e desmoronar", diz.
            "Por isso -prossegue-, temos o recuo da linha da costa. É um processo muito comum que ocorre na região do Morro Branco, de Icapuí. Isso é agravado pois as pessoas usam essas faixas para andar. Esse é exemplo de área que não deveria ser ocupada jamais. Além do risco, elas representam, assim como as dunas, um patrimônio natural".
               Paulo Roberto argumenta que é preciso administrar esse conflito. "Sabemos que o turismo é um dos setores que mais gera emprego no Ceará. Porém, se degradarmos nossas praias, os visitantes não vão querer conhecer uma área que não oferece uma beleza paisagística natural. Até para garantir a presença deles, deveríamos pensar numa forma de ordenamento que pudesse envolver toda a sociedade". (FM)

Fonte: DN


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