Especialista
em impactos ambientais em zonas costeiras, professor do curso de Geografia da
Universidade Estadual do Ceará (Uece) e membro do Laboratório de Geologia e
Geomorfologia Costeira Oceânica, Paulo Roberto Silva Pessoa explica que, em
todos os 573 quilômetros da nossa costa, um dos maiores problemas é, sem
dúvida, o da ocupação, um dos fatores responsáveis pelo avanço do mar.
O professor
destaca que, "se barramos o caminho natural, seja para a construção de um
resort, um prédio, de qualquer empreendimento, a gente acaba deixando de
alimentar a zona costeira. O resultado é que as ondas vão bater na praia sem a
alimentação e a tendência desse processo pode ser a erosão. Nós temos alguns
núcleos erosivos, como o de Icaraí, Iparana, algumas áreas de Paracuru. Esses
são fatores ocasionados por intervenções humanas". Sobre a dinâmica
natural da zona costeira, o especialista conta que "o movimento das ondas
é alimentado pela areia das dunas. A nossa costa é eminentemente arenosa. São
os depósitos eólicos no formato de dunas. Têm uma expressividade muito grande
naquela região do Cauípe, de Canoa Quebrada e Jericoacoara. Essa areia já esteve
um dia no ambiente litorâneo, na praia. Os mares e as ondas jogam esse material
para a costa. O vento se encarrega de levar para cima do continente, que
retrabalha esses sedimentos até que eles cheguem de novo na linha costeira,
caiam na zona fluvial, nesses estuários pequenos, que devolvem essa areia para
a zona costeira mais uma vez".
O professor
frisa que, "além disso, temos os eventos considerados naturais, de alta
energia, que são as ondas de tempestades que provocam as ressacas e também esse
tipo de fenômeno de degradação. Elas são geradas no oceano e representam a
transferência de energia da atmosfera para a superfície do mar. Parte dessas
ondas surge por esse processo. As outras ondas são formadas por abalos
sísmicos, pelo vulcanismo e os terremotos que transferem energia da crosta para
a superfície e aí essas ondas passam a se propagar pelo oceano. E quando
atingem a costa podem provocar esses eventos de alta energia".
Paulo Roberto
lembra que, na costa do Ceará, apesar dos outros eventos, o principal
responsável por provocar as ondas no oceano é o vento. "Quanto maior o
sistema atmosférico, maior a quantidade de dias que ele vai atuar em cima da
superfície, maior será a área afetada e, consequentemente, a quantidade de
ondas que pode chegar à linha da costa de Fortaleza. Esse é um processo que
forma também a erosão". Conforme o professor Paulo Roberto, temos células
de erosão de uma ponta a outra do nosso litoral. Outro aspecto natural é do das
falésias. "Elas recuam. Com o tempo, vão se desgastando por causa das
ondas até perder o que chamamos coeficiente de estabilização e
desmoronar", diz.
"Por isso
-prossegue-, temos o recuo da linha da costa. É um processo muito comum que
ocorre na região do Morro Branco, de Icapuí. Isso é agravado pois as pessoas
usam essas faixas para andar. Esse é exemplo de área que não deveria ser
ocupada jamais. Além do risco, elas representam, assim como as dunas, um
patrimônio natural".
Paulo Roberto
argumenta que é preciso administrar esse conflito. "Sabemos que o turismo
é um dos setores que mais gera emprego no Ceará. Porém, se degradarmos nossas
praias, os visitantes não vão querer conhecer uma área que não oferece uma
beleza paisagística natural. Até para garantir a presença deles, deveríamos
pensar numa forma de ordenamento que pudesse envolver toda a sociedade".
(FM)
Fonte: DN
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